O Algarve vai em breve tornar-se uma espécie de margem Sul do Tejo: quem vive na margem Sul, paga mais do que era devido para ter direito a ir a Lisboa todos os dias trabalhar. E com esse imposto, está a encher os cofres de empresas favorecidas pelo estado: a Lusoponte, a Transtejo e outras. São milhares de pessoas que assim vivem reféns de interesses privados. Pagam um extra para que alguns se encham de dinheiro. Dinheiro fácil, lucros sem risco nem regulação.
E agora no Algarve, o governo de Lisboa vai aplicar a mesma fórmula: transforma a nossa via rápida numa máquina de dinheiro para a Brisa, Mota-Engil ou outra dessas empresas favorecidas pelo Estado. Dinheiro fácil, lucros sem risco nem regulação. São mais uns quinhentos mil reféns de interesses privados.
Não se esperem grandes reacções nem protestos por parte dos nossos políticos locais. Eles compreendem a situação. Eles fazem parte da situação. Faro sempre foi uma Lisboa em miniatura. A burocracia estatal de Faro é uma réplica em ponto pequeno da de Lisboa. Existem secretários regionais disto e daquilo, directores da CCR, do Turismo, da Segurança Social, do Governo Civil e vários outros. Faro portanto está cheio de gente que sobe na vida como se sobe em Lisboa: primeiro, uma filiação partidária abre as portas a cargos públicos; depois, o cruzamento desses cargos públicos com interesses privados abre as portas ao poder e à riqueza. A diferença é apenas de escala: enquanto Lisboa faz secretários de estado e a seguir banqueiros ou administradores de empresas, Faro faz pequenos “tachos” e estes, bem usados, criam casas na praia e outras pequenas sinecuras.
O uso da burocracia estatal pelos partidos não se limita a criar carreiras. Também cria falsos princípios, pomposos e bem sonantes, para dar um arremedo de respeitabilidade onde ela esteja a fazer falta. Foi dessa forma que nasceu o princípio do utilizador – pagador, que é falso porque foi escrito ao contrário.
O verdadeiro princípio é o do pagador – utilizador: a estrada é um bem público, nós já pagamos impostos para manter a estrada, logo não temos nada que pagar uma segunda vez para usa-la. O princípio do pagador – utilizador sempre tem sido, desde o tempo da Magna Carta, o grito dos que lutam pelos seus direitos. Em nome dele, opomo-nos à Mota-Engil ou à Brisa, que vêm para o Algarve colher onde não semearam; e opomo-nos aos velhos régulos de Faro, que primeiro põem uma casa em cima da duna e a seguir põem os seus conterrâneos para fora da duna.
A conclusão a tirar destas linhas é simples: por ser a réplica dos vícios e das espertezas de Lisboa, por ter origem semelhante, o nosso meio político nunca lutará contra Lisboa. Nunca participará a sério, a doer, num movimento de contestação às portagens, às demolições ou a outras imposições. Quem aposta na sua liderança engana-se. E assim, pergunto, quem lutará pelo Algarve? Quem, na altura decisiva que se aproxima, dará a cara por nós?
2 comentários:
Gosto mais desta página: é em português :-)
Ainda não percebi como é que estrangeiros vão pagar as portagens?
Pois quando passamos na via, podemos ver que as portagens são camaras... Pois nós residentes, temos que ter "via verde" e os que vem de fora que não são residentes?
O que acho que vai acontecer,é que muitos dos estrangeiros (sobretudo os nossos vizinhos da espanha) não vão pagar as portagens! (como aconteceu no norte).
E que essas tais portagens vão continuar a ser incendiadas por parte de Algarvios revoltados com essas portagens!
Só espero é que isso não vá para a frente...o que duvido muito...
Para nós residentes do Algarve, que estudamos na UALG e que não somos de Faro, e que usamos a via para vir para a universidade, vai-nos sair tão caro como se estivessemos ido estudar para Fora!
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