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terça-feira, 26 de abril de 2011

Um diagnóstico: ideias claras sobre a raiz dos nossos males

Portugal vive sob um regime plutocrático. Sempre foi assim mas ultimamente tem piorado. Os partidos são máquinas de promoção de interesses pessoais e de grupos económicos. Os seus membros são uma "numenclatura" com ligações estreitíssimas a esses grandes grupos. Como consequência dessa promiscuidade entre o Estado e o poder económico, a nossa economia é "corporatista" ou "rigged" (combinadinha): vive de monopólios, concessões, exclusivos e oligopólios que se mantêm sem a mínima justificação.

Somos dez milhões de reféns da Galp, da EDP, da PT, dos bancos e seguradoras, da Brisa, Mota-Engil, Trans-Tejo e outros favorecidos, sem esquecer a água, o gás e outras concessões mais recentes. Passamos uma vida a trabalhar para essa gente tenha lucros sem risco e sem regulação. E cada uma dessas concessões é o sinal visível de uma troca de favores entre o Estado (partidos) e o Capital.

Ora isto não é assim em mais nenhum país desenvolvido. Hoje, este tipo de regimes só se encontra no terceiro mundo. Está mais do que provado que o "corporatismo" leva à degradação de qualquer economia e a grandes desigualdades sociais pois ataca aquilo que uma economia tem de mais vital: a sua competitividade, o espírito de iniciativa, a imaginação criadora das pessoas.

O "corporatismo", as concessões, os monopólios e a correspondente promiscuidade regional e local, fazem com que a população inteira se transforme em "funcionários públicos", isto é, faz com que as pessoas se instalem e adquiram uma mentalidade negativa em relação à responsabilidade, à iniciativa, à superação pessoal.

É impossível esperar o melhor de pessoas que sabem ser tudo um jogo de interesses e a quem a experiência ensinou que o mérito não é valorizado. O efeito do "corporatismo" é exactamente o mesmo que se observava em regimes como o soviético (também sob o domínio de uma "numenclatura"), onde as luzes de um bar de hotel eram apagadas às 11 em ponto, quer estivessem lá clientes quer não.

A raiz da nossa pouca produtividade e da aparente inércia, é pois o facto dos Portugueses não serem tolos. Adaptam-se simplesmente a um ambiente onde esforçar-se não compensa. Em ambientes onde a competência e o esforço contam, os Portugueses mostram logo uma atitude diferente, com grande responsabilidade e iniciativa.

No estrangeiro, uma pessoa com ambições confia no seu engenho e nas suas qualidades para triunfar. E essas qualidades são, em geral, reconhecidas e valorizadas. Em Portugal, uma pessoa com ambições sabe que só tem um caminho para triunfar: virar-se para os partidos. Os partidos são as agências de emprego; dão direito, primeiro a ingressar nos quadros superiores do Estado; e depois, em reconhecimento por serviços prestados como quadros superiores do Estado, a postos em empresas.

Mas o "corporatismo" tem manifestações ainda piores: o Estado aliena aquilo que nunca deveria ter alienado, os chamados monopólios naturais ou "de facto", como as redes de agua e esgotos, as infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias, as redes eléctricas ou de tele-comunicações e mesmo instituições ligadas ao bem público como hospitais - e cria "empresas" que, como negócios, são totalmente fictícias; mas onde os partidos colocam os seus quadros... com licença para enriquecerem à nossa custa.

Ou muito, muito pior, o Estado inventa obras públicas e outras actividades de duvidoso interesse, nas quais assume compromissos económicos enormes, em "parceria" com privados, mas sempre de tal modo que os riscos ficam do lado do Estado e os lucros sempre do lado dos privados.

Vale tudo. É realmente um roubo e uma vergonha que já não se encontra em mais parte nenhuma do mundo desenvolvido. E é assim que Portugal funciona sob a égide dos partidos.

Ao nível regional, os quadros do PS e o PSD portam-se como pequenos régulos. Em geral, são gente ligada a negócios locais e que aproveita para enriquecer ainda mais. No assalto aos empregos públicos, reproduz-se em ponto pequeno o que acontece em Lisboa: hospitais, Segurança Social, Secretarias regionais, até escolas… tudo serve de trampolim para filiados nos partidos. A competência deixou de interessar.

Os quadros regionais dos partidos não passam de lacaios ao serviço de Lisboa. Veja-se a forma tíbia e ineficiente, realmente cobarde, como se "opuseram" às portagens na Via do Infante. Não é deles que podemos esperar que defendam o Algarve, que nos defendam a nós da voracidade das empresas protegidas pelo Estado e pelos respectivos partidos. Aliás, são sempre as mesmas caras, sempre a mesma pomposidade balofa, sempre as mesmas trocas de favores, o mesmo nepotismo. Eles são a nossa vergonha... e em Lisboa, ainda por cima, riem-se do seu aspecto irremediavelmente pacóvio.

Posto isto, se deveras desejamos ajudar o nosso país, impõe-se lutarmos contra esta plutocracia, tanto a nacional como a regional. Lutar contra esta promiscuidade entre o Estado / autarquias e os partidos e entre os partidos e o poder económico. Vivemos hoje uma oportunidade única para levar os eleitores a deslocarem-se para a periferia do espectro político e assim colocarem em cheque os dois partidos que são o sustentáculo dessa plutocracia. Nunca como antes o PS e o PSD apareceram aos olhos de todos como dois sintomas de uma mesma doença. É até possível que tenham que vir a governar juntos e que juntos tenham que arcar com as decisões mais odiosas desta época difícil.

2 comentários:

Bruno Rafael Oliveira disse...

Subscrevo cada palavra, Professor.

Só tenho a acrescentar que, mesmo quando se entra para um partido como o PS, PSD ou PP, ajuda muito pertencer à casta dos bem-sucedidos: casta, porque é algo, como na Índia, em que se nasce e se permanece tendo como modo de ascender, o casamento. Em Portugal, outros factores contribuem para essa ascensão: a troca de favores, o enriquecimento ilícito, e a protecção dos interesses do partido em detrimento dos interesses dos cidadãos, traindo-os (quando já conseguiram um cargo público alto ou intermédio).

Muitos portugueses vivem nas castas inferiores, sem se darem conta que apenas lhe faltam as ligações pessoais certas. Inadvertidamente, habituam-se a ser manipulados neste sistema e assim sobrevivem, infelizes, a pensar que têm menos qualidades ou que tiveram mais azares na vida do que os iluminados que nos governam ou que são seus chefes. Mais vale tarde do que nunca, mas temos de mudar tudo isto, e não é procurando o "voto útil" num dos 3 partidos referidos. Reconheço algumas qualidades a cada um dos líderes, mas nenhum me convence de que está genuinamente interessado ou que é capaz de mudar o estado das coisas, de modo a proteger o Povo. O partido não é só o seu líder: inclui todos os outros parasitas (que me perdoe quem, no meio deles, é honesto e patriota, se os houver). Sublinho, por isso, a necessidade de redefinir o conceito de "voto útil" como o voto que realmente contribui para mudar Portugal para melhor e não mudar apenas os parasitas cujo ego e o bolso alimentamos.

Não concordei com a ausência do BE e do PCP nas reuniões com o FMI. Ainda assim, acho que o BE, principalmente, reúne argumentos que merecem o meu voto. É um erro crasso pensar, como alguns ainda pensam, que os verdadeiros economistas são de direita. Veja-se o que deu a direita do PSD e a esquerda "canhota" e viciada do PS. Houvesse valores que os tornassem dignos de representar o Povo, e tanto fazia que fossem de esquerda ou de direita, penso eu. Temos de parar de votar no "mal menor". Merecemos mais.

Anónimo disse...

Tal como o Bruno Rafael Oliveira, subscrevo igualmente cada palavra do Professor.

Francamente, nada do que aqui possa escrever, vai acrescentar ou enriquecer conteúdo do artigo muito bem complementado pelo comentário do Bruno.