Com o Processo de Bolonha, a universidade devia ter-se virado para o emprego e não o fez. Mas fez outra coisa: desvalorizou a licenciatura. Se antes bastava ao jovem ser licenciado para ter acesso ao mercado de trabalho, agora já não basta. São precisos mais dois anos de canseiras e, é claro, mais quatro ou cinco mil Euros. Em suma, agora é preciso ter um Mestrado.
A desvalorização da licenciatura é, em boa medida, intencional. Algumas Universidades de Lisboa e do Porto sentiram que a duração das licenciaturas, ao passar de 4 para 3 anos, punha em risco o emprego de professores e diminuía a fatia das propinas. Assim, tomaram medidas para reter os finalistas, levando-os a frequentar pós-graduações e mestrados. A mais eficaz dessas medidas foi ensinar na licenciatura apenas conteúdos teóricos que não chegam para o mercado de trabalho.
É certo que sempre existiram licenciaturas teóricas e quem as escolhe não é enganado: encontra teoria. Mas adulterar licenciaturas aplicadas, como Gestão ou as Engenharias, ensinando nelas quase só teoria, isso é um embuste.
Chamam às licenciaturas agora inventadas, as tais que deviam ser aplicadas mas não são, “licenciaturas de banda larga”. A “banda larga” é a confissão de que o Processo de Bolonha morreu. Mas claro, em Lisboa e no Porto a procura é grande e há sempre uma fila de candidatos, vindos de todo o país, dispostos a pagar por mais este sonho.
No Algarve, a tentação de imitar Lisboa é sempre grande. Só que aqui não é garantido que haja uma fila de candidatos dispostos a pagar para ficarem quase na mesma; daí talvez a relutância em mudar para a “banda larga”. Ainda bem. Porque se neste país alguma vez voltar a existir um mercado de trabalho, uma economia em crescimento, então muitos jovens irão descobrir que os seus estudos em universidades caras de Lisboa e do Porto foram afinal um engano: o preço que pagaram para adiar o desespero.
E essas instituições que intencionalmente desvalorizaram a licenciatura, irão aparecer aos olhos de todos como parasitas que prosperaram à custa do gritante desemprego dos mais novos.
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